História do Boxe Brasileiro


Primeiros vestígios do boxe no Brasil 


No início do sec. XX, a prática desportiva era quase totalmente desconhecida no Brasil. Os raros esportistas limitavam-se a membros das comunidades de emigrantes alemães e italianos, no Rio Grande do Sul e em Sao Paulo. Foi só com eles que foi introduzida, entre nós, a idéia de competição esportiva entre dois homens ou entre equipes, principalmente em modalidades como natação e canoagem. 

Além dessa falta de tradição esportiva, outra característica desfavorecia a introdução do boxe no Brasil: no final do sec. XIX e início do XX, lutar era sempre associado a coisa de capoeiristas e, então, à marginalidade. Esse preconceito era especialmente forte entre os membros da elite dirigente do país. 

As primeiras exibições de boxe em solo brasileiro ocorreram naquela época e só reforçaram esse preconceito: foram feitas por marinheiros europeus, que tinham aportado em Santos e no Rio de Janeiro, e naquela época os marinheiros eram recrutados das classes mais humildes. 

Em 1913: a primeira lição 

Em 1913, travou-se a mais antiga luta de boxe em território brasileiro que ficou documentada. Tratava-se apenas de uma luta de exibição - ou de desafio, não se tem certeza pois os testemunhos da época divergem nesse detalhe - em São Paulo, entre um pequeno ex-boxeador profissional que fazia parte de uma companhia de ópera francesa e o atleta Luis Sucupira, conhecido como o Apolo Brasileiro em razão de seu físico avantajado. 

Embora surrado, o nosso Apolo reconheceu que a técnica pode superar a força e tornou-se um grande entusiasta do boxe e seu primeiro grande divulgador. Dado seu prestígio, era médico e filho de conceituada família, seu apoio em muito contribuiu para atenuar o preconceito que já mencionamos. 

O boxe é divulgado e legalizado no Brasil 

A propaganda de Sucupira entusiasmou alguns jovens que eram membros da tradicional Societá dei Canotiere Esperia, de São Paulo, os quais tentaram incluir o boxe entre as atividades dessa associação; esse esforço durou entre 1914 e 1915, e parece não ter frutificado. 

A real divulgação iniciou apenas em 1919, com Goes Neto, um marinheiro carioca que havia feito várias viagens à Europa, onde havia aprendido a boxear. Naquele ano de 1919, Goes Neto retornara ao Brasil e resolveu fazer várias exibições no Rio de Janeiro. Com as mesmas, um sobrinho do Presidente da República, Rodrigues Alves, se apaixonou pela nobre arte. O apoio de Rodrigues Alves facilitou a difusão do boxe: começaram a surgir academias e logo esse esporte ganhou a áurea da "legalidade", de esporte regulamentado, com a criação das "comissões municipais de boxe" em São Paulo, Santos e Rio de Janeiro. Isso tudo, entre 1920 e 1921. 

Os primeiros treinadores competentes: início da década dos 20's 

Até 1923, os treinadores eram improvisados. A situação só começou a melhorar quando Batista Bertagnolli estabeleceu-se, em 1923, como organizador de lutas no Clube Espéria, de São Paulo. Bertagnolli, que havia aprendido boxe na Europa, muito bem soube usar seus conhecimentos fazendo um controle de qualidade nas lutas realizadas todos os domingos naquele importante clube da Ponte Preta. O reconhecimento do público foi imediato, passando a lotar as dependências do Espéria. 

Contudo, a primeira pessoa que hoje seria considerada um treinador foi Celestino Caversazio. A dívida do boxe brasileiro para com Carvesazio é imensa e, se tivermos que apontar sua principal contribuição, diríamos que foi ser professor dos primeiros treinadores importantes do Brasil: os irmãos Jofre, Atílio Lofredo, Chico Sangiovani, etc. 

Ainda em 1923, no Rio de Janeiro, foi criada a primeira academia de boxe no Brasil: era o Brasil Boxing Club que muito difundiu o boxe entre os cariocas. 

Em 1924: a tragédia Ditão e consequências 

Entre 1908 e 1915, o boxeador negro Jack Johnson deteve o cinturão de campeão mundial dos pesados e muito humilhou os brancos que o desafiaram. Uma consequência disso foi os dirigentes americanos proibirem os cinemas de passarem fitas ou noticiários com lutas de boxe. Em 1915, Jess Wilard derrotou Johnson e assim passou o cinturão para a raça branca. A partir daí e, principalmente, a partir de 1919, quando Jack Dempsey - outro branco - derrotou Wilard e passou a fazer defesas de título com públicos de dezenas de milhares de pagantes, os filmes de boxe foram liberados novamente. 

Logo esses filmes chegaram nos cinemas brasileiros e despertaram em nossos jovens e empresários do boxe uma imensa ganância. Todos ficaram sonhando com o fácil enriquecimento através do boxe. Jovens que nunca haviam feito nenhuma luta, saiam do interior do país e iam para São Paulo ou Rio de Janeiro com vistas a se tornarem profissionais do boxe. 

Foi então que, no final do ano de 1922, Benedito dos Santos "Ditão" iniciou a treinar boxe numa academia de São Paulo. Ditão era um negro de porte gigantesco, enorme aptidão para o boxe e um direto irresistível. Em um par de meses, já no início de 1923, estreiava como profissional e, sem nenhuma dificuldade, derrotou seus três primeiros adversários, todos no primeiro round. Se somarmos o tempo total de luta desses três combates, não chegaremos a três minutos. Era essa a experiência profissional de Ditão. 

Como depois relatou o técnico Atílio Lofredo, "Todo o mundo estava enlouquecido de entusiasmo com Ditão; seus três fulminantes nocautes levaram todos a acreditar que nenhum homem do mundo poderia resistir à sua pancada devastadora". Não menor era o entusiasmo dos empresários da época, os quais viram uma chance milionária quando passou pelo Brasil o campeão europeu dos pesados, Hermínio Spalla, que tinha ido até à Argentina enfrentar o legendário Angel Firpo. 

Rapidamente, foi organizada uma luta entre Ditão e Spalla que rendeu 120 contos de réis, uma fortuna para a época. O início da luta foi quase de encomenda para a platéia: já de saída, Spalla foi derrubado pela potentíssima direita de Ditão. O público foi ao delírio, mas não era por nada que Spalla tinha mais de sessenta lutas com adversários de nível internacional. O italiano levantou-se e a partir do terceiro round iniciou a demolir Ditão. Esse, qual leão ferido, tentou resistir mas acabou caindo no nono round. Teve um derrame cerebral, mas sobreviveu para terminar seus dias como inválido. 

Imediatamente após a derrota de Ditão, os jornais iniciaram uma campanha contra o boxe, o que levou o governador de São Paulo a proibir sua prática. Mas não ficou só nisso o impacto da tragédia de Ditão: por quase dez anos, os empresários brasileiros ficaram receosos de trazer boxeadores estrangeiros. 

O período de ouro entre 1926 e 1932 

Após revogada a proibição, em abril de 1925, o boxe brasileiro voltou a crescer a partir das sementes lançadas pelos primeiro treinadores competentes. 

No período que se seguiu, entre os vários lutadores de destaque, o maior ídolo foi o peso leve Italo Hugo, o Menino de Ouro. Entre seus maiores feitos está o nocaute, em primeiro round, sobre o campeão sul-americano dos leves, Juan Carlos Gazala, em 1931. 

Em 1932, tivemos novo impasse: a Revolução de 32 paralisou tudo. 
Década dos 30's 

O acontecimento marcante desse período foi a criação das federações de boxe - carioca, paulista, etc - com as quais se deu condições de os boxeadores profissionais brasileiros disputarem oficialmente títulos internacionais e os amadores poderem participar de torneios e campeonatos internacionais. 

Como consequência, já em 1933, fomos pela primeira vez a um campeonato internacional: o Sul-Americano de Boxe Amador, que se realizou na Argentina. A seleção brasileira era composta apenas de cariocas, pois que somente Rio de Janeiro tinha boxe legalizado através de federação. 
Tínhamos, contudo, um grande caminho a percorrer. Nessa época, o boxe de nossos vizinhos argentinos, uruguaios e chilenos era tão superior que considerávamos uma façanha perder "apenas" por pontos para um deles... 

Época do Ginásio do Pacaembu 

Esse ginásio foi criado em 1940 e nele, pela primeira vez, podia-se ver lutas de brasileiros com nível verdadeiramente internacional. Os mais destacados deles foram: Atílio Lofredo e Antônio Zumbano ( o "Zumbanão" ). 

Zumbanão foi o primeiro grande astro do boxe brasileiro, imperando absoluto por um longo período: de 1936 a 1950, durante o qual realizou cerca de 140 lutas, mais da metade das quais ganhou por nocaute. Era um peso médio de grande poder de punch e não menor capacidade de esquiva. Verdadeiro ídolo, arrastava multidões ao Pacaembu. 

O início do boxe moderno: anos 50's 

Esta foi uma nova época de ouro para o boxe brasileiro: grandes espetáculos, nacionais e internacionais, e uma imensa galeria de astros. Um dos elementos decisivos para isso foi a ação do primeiro mega-empresário do boxe brasileiro, Jacó Nahun. 
Além de ter lançado alguns dos grandes nomes do boxe brasileiro - como Kaled Curi, Ralf Zumbano e Éder Jofre -, Jacó Nahun conseguiu um intercâmbio com os dirigentes do Luna Park, o maior ginásio de boxe da América do Sul, com o que centenas de boxeadores argentinos vieram lutar no Pacaembu e, posteriormente, no Ginásio do Ibirapuera. Isso foi uma excelente escola que contribuiu decisivamente para o amadurecimento do boxe brasileiro. 

Na época, tivemos tantos bons boxeadores que fica até difícil destarcamos alguns deles sem correr risco de fazer injustiça. Por razões de espaço, apontaremos apenas quatro deles os quais se não forem unanimidade certamente estarão em qualquer lista de "os mais importantes da época":

  • Kaled Curi, o "Beduíno"
    peso galo dotado de fortíssima esquerda; frequentemente lutava com adversários de várias categorias acima, sendo que travou muitas lutas verdadeiramente antológicas; como amador, chegou a campeão latino-americano e como profissional foi campeão brasileiro; podia ter ido além se não se envolvesse tanto com questões administrativas das federações e com a promoção de lutas; após parar de lutar, dedicou-se a empresariar boxeadores e promover eventos de boxe profissional.
  • Ralph Zumbano, o "Bailarino"
    peso leve de pouca "pegada" mas estilo, esquiva, técnica e jogo de pernas elogiadas até internacionalmente; teve carreira curta como lutador, passando a treinador de sucesso.
  • Luis Inácio, o "Luisão"
    talvez, o maior meio-pesado brasileiro de todos os tempos; extremamente popular por seu carisma, suas entrevistas folclóricas, sua velocidade e poder de punch; foi o primeiro brasileiro a conquistar medalha de ouro nos Jogos Panamericanos ( México 1955 ); como profissional, chegou a campeão sul-americano dos meio-pesados, tendo feito inúmeras lutas internacionais, inclusive com o legendário Archie Moore; sua popularidade acabou sendo sua tragédia: ao subestimar o famoso campeão chileno Humberto Loayza, numa troca de golpes, acabou sofrendo um violento nocaute; como era bilheteria certa, os empresários nem lhe deixaram descansar, continuaram a lhe promover lutas, as quais só agravaram a lesão que havia sofrido; o resultado foi o esperado: Luisão acabou "sonado" ( ficou extremamente sensível a qualquer golpe na cabeça e a exibir sintomas da chamada "demência pugilística" ) passando a ser derrotado por qualquer um, inclusive em brigas de rua com marginais; acabou morrendo como indigente e se tornando mais uma triste lição para o boxe profissional brasileiro.
  • Paulo de Jesus Cavalheiro
    Peso meio-médio, atuando profissionalmente entre 55 e 58. Extremamente carismático, só perderia em popularidade para o Zumbanão. Já era tratado como ídolo nos seus tempos de amador. Tinha grave problema cardíaco que prejudicava muito sua atuação.

A década de Eder Jofre: os anos 60's

O maior boxeador brasileiro de todos os tempos nasceu em uma família de pugilistas: tanto por parte do pai ( família Jofre, oriunda da Argentina ) como por parte da mãe ( família dos Zumbanos ). Assim que Éder Jofre, praticamente, nasceu dentro do ringue e desde cedo aprendeu as "manhas" da nobre arte. 

Desde muito cedo exibia características que acabaram lhe colocando num lugar de destaque na história do boxe mundial: tinha como principal arma um fortísssimo gancho de esquerda ( vide foto ao lado ), e uma igualmente arrasadora direita; não menos importante era sua grande inteligência que lhe permitia modificar o estilo de luta segundo o adversário. 

Estreiou como amador aos 17 anos de idade, em 1953. Em seus quatro anos de competição entre os amadores não conseguiu nenhum título de importância internacional. Seu sucesso só viria explodir como profissional, carreira que iniciou aos 21 anos, em 1956. 

Já em 1958 tornou-se campeão brasileiro dos pesos galo. Contudo, o sucesso internacional não foi tão rápido. Para isso foi fundamental o trabalho de seu empresário, Jacó Nahun. Esse, usou sua experiência para construir uma "escadinha" que permitisse Éder fazer um renome internacional e assim poder esperar por uma chance de disputar o título mundial. Essa chance começou a ficar mais próxima em 1960, quando Jacó Nahun conseguiu a inclusão de Éder entre os dez primeiros do ranking de galos da NBA ( a associação que mais tarde deu origem a atual WBA=Associação Mundial de Boxe ). Atingindo esse ponto, Éder trocou de empresário ( Nahun, magoado com a "traição", abandonou o boxe ) e foi lutar nos USA, onde fêz três lutas que melhoraram sua posição no ranking. Ainda nesse mesmo ano de 1960, finalmente, materializou-se a oportunidade de disputa pelo título mundial quando o então campeão mundial dos galos, Joe Becerra, renunciou ao seu título depois de ter causado a morte de seu último adversário. Com isso, no final de 1960, acabou sendo marcada uma luta pelo título vago entre Éder e o mexicano Eloy Sanchez. Éder Jofre precisou de apenas seis rounds para se adonar do cinturão. 

Contudo, Éder ainda não havia chegado ao topo, pois a União Européia de Boxe não reconhecia os campeões da americana NBA. Foi só em 1962 que surgiu a oportunidade de uma luta pela unificação dos pesos galo, entre Jofre campeão pela NBA e Johnny Caldwell campeão pela UEB. Essa luta foi travada no ginásio do Ibirapuera, com um público record de 23 000 pessoas. Éder massacrou o irlandês Caldwell e se tornou o undisputed champion dos pesos galo. 

Jofre defendeu com sucesso seu cinturão por sete vezes, até 1965, não fugindo de nenhum adversário, por mais perigoso que esse fosse. Contudo, seu maior inimigo crescia a olhos vistos: era seu excesso de peso, que lhe fêz realizar várias lutas muito desidratado e até mal alimentado. Apesar disso, pressionado de vários lados, Éder preferiu não subir para a categoria dos pesos pena. A decisão foi errada: em 1965 foi vencido pelo maior boxeador japonês de todos os tempos, Masahiko "Fighting" Harada. No ano seguinte, o japonês concedeu revanche e venceu novamente. Com isso, Jofre declarou sua aposentadoria. Tinha 10 anos de profissionalismo e estava com 30 anos, o que é considerada uma idade avançada para um boxeador da categoria dos galos. 

Como peso galo, Éder Jofre recebeu as maiores distinções: em eleição promovida pela mais conceituada publicação de boxe do mundo, The Ring Magazine, os leitores dessa revista elegeram Éder Jofre como um dos dez melhores boxeadores do século XX; foi o primeiro boxeador não americano indicado para o Hall of Fame do boxe; etc. 

Epoca da penúria: 70's

O sucesso do peso galo Éder Jofre motivou o surgimento de muitos boxeadores brasileiros. Entre esses, os mais destacdos foram:

  • Servílio de Oliveira 
    peso mosca de estilo brilhante, golpes e esquivas de precisão milimétrica; por muitos, é considerado o melhor boxeador já surgido no Brasil; estreiou em 1968 nos amadores e já no mesmo ano conseguiu o maior feito do boxe amador brasileiro até então: medalha de bronze nas Olimpíadas; em 1969 estreiou nos profissionais onde atuou até 1971, fazendo várias lutas internacionais, a maioria com boxeadores sul-americanos; em 1971, em luta com um mexicano, sofreu um deslocamento de retina que o deixou praticamente cego do olho direito e o fêz abandonar sua muitísssimo promissora carreira; em 1976, tentou voltar, chegando a fazer algums lutas internacionais, mas na primeira disputa de título, sofreu impedimento médico e abandonou de vez o esporte.
  • Miguel de Oliveira
    iniciou no profissionalismo na mesma época que Servílio e se destacou por ser um peso médio-ligeiro de soco potente, especialmente quando desferia o hook no fígado, e de ser dotado de grande inteligência; em 1973 já tinha 29 lutas e teve sua oportunidade na disputa pelo título mundial pelo CMB; em 1975 teve nova chance, agora com sucesso, arrebantando o cinturão mundial pelo CMB do espanhol José Duran; infelizmente, mal orientado, perdeu o título já na primeira defesa.

O terceiro boxeador importante dessa época foi, novamente, Éder Jofre, que, premido por dificuldades financeiras, voltou a boxear em 1970, agora nos pesos pena. Éder continuou a brilhar e em 1973 conquistou o título mundial do CMB, infelizmente não tão importante quanto o que tinha ganho como galo. Também não teve sorte com seu empresário que acabou deixando-o em inatividade por tempo excessivo o que fêz com que o CMB o destituísse do título. Apesar de não ser mais campeão, ele continou a lutar, sempre invicto até 1976, quando encerrou definitivamente sua carreira, aos 40 anos de idade. Ao longo de sua vida de profissional, realizou 78 lutas, sendo que ganhou 50 por nocaute e teve apenas duas derrotas, ambas por pontos e para o histórico Masahiko "Fighting" Harada. 


Assim que, quase simultaneamente, tivemos a aposentadoria de três dos maiores lutadores brasileiros de todos os tempos: Jofre, Servílio e Miguel de Oliveira. Isso e a transmissão dos jogos de futebol pela TV funcionaram como uma ducha fria no boxe brasileiro, que mergulhou num período bastante negro, de ginásios vazios e poucas perspectivas. 

O fenômeno Maguila e o ressurgimento do boxe

No início dos anos oitenta, pela primeira vez no Brasil, uma rede de TV ( a TV Bandeirantes ), por iniciativa de seu diretor de esportes ( Luciano do Valle, o qual também atuava como promotor de eventos esportivos, através de sua empresa, a Luque Propaganda, Promoções e Produções ), resolveu investir pesado no boxe, transformando-o em espetáculo de massa. 

Os primeiros boxeadores feitos pela TV brasileira, Francisco Thomás da Cruz ( peso super-pena ) e Rui Barbosa Bonfim ( meio-peaso ), tiveram relativo sucesso, mas foi só com Adislon "Maguila" Rodrigues que as transmissões de lutas de boxe pela TV alcançaram absoluta liderança de audiência. 

Maguila, com 1,86 metros e cerca de 100 Kg, foi um dos poucos pesos pesados brasileiros. Tinha grandes elementos para ser um ídolo: enorme carisma aliado à grande valentia, mobilidade e uma direita demolidora que lhe propiciou nada menos do que 78 nocautes em sua carreira de 87 lutas, a maioria das quais com lutadores europeus, sul-americanos e norte-americanos. 

Maguila estreiou como profissional em 1983, tendo Ralph Zumbano como técnico e Kaled Curi como empresário. Em 1986, já no auge da fama, assinou contrato com a Luque e passou a treinar com Miguel de Oliveira que alterou profundamente seu estilo de luta e corrigiu seus defeitos de defesa. Como consequência, em 1989, chegou a ser o segundo colocado no ranking do CMB e em rota de colisão com Mike Tyson, na época, o undisputed champion do mundo. 

O grande momento, contudo, nunca ocorreu. Precisou enfrentar dois dos maiores pesados do século XX: Evander Holyfield e George Foreman. Perdeu essas duas lutas e isso lhe tirou não só a chance de disputar o título como o encaminhou para a obscuridade. Para piorar, Maguila aumentou muito de peso, perdendo a forma física. Apesar disso, em 1995, chegou a campeão mundial pela WBF ( Federação Mundial de Boxe ), uma associação que ainda não havia conseguido grande respeitabilidade. Com falta de patrocínio, pouco tempo depois, Maguila foi destituído do título por inatividade. 

Com o ocaso de Maguila, também veio o do boxe brasileiro que rapidamente perdeu o enorme espaço que havia tido na televisão. 

No final dos anos noventa, surgiu uma nova promessa: Acelino de Freitas, o Popó. Patrocinado pela Rede Globo de televisão, Popó chegou ao título de campeão mundial pelo WBO . Ainda é cedo para avaliarmos a posição que lhe reservará a História. 

Comentários finais:

O texto acima é apenas uma tentativa de resumir a história do boxe brasileiro. Para se fazer justiça aos mais de 10 000 boxeadores profissionais que atuaram no período seria necessário um longo livro. 

Fonte: Site da Confederação Brasileira de Boxe

Fonte: Site da Federação Rio Grandense de Boxe
URL: http://www.boxergs.com.br/

GLOSSÁRIO DO BOXE

BOXE - A palavra "boxe" foi formada a partir do verbo inglês "to box". O significado original era "bater", mas, lá pelo ano 1 500 dC, passou a denotar "bater com os punhos" e seu atual uso substantivado significa "luta com os punhos, principalmente em prática desportiva".

É de se chamar a atenção para o fato que, ao contrário do que muitos brasileiros acham, nos países de língua inglêsa o boxe não é chamado de boxe e nem de box, mas de boxing.

PUGILISMO - Em latim, a palavra "pugillus" indica o punho fechado, em forma de soco. A partir disso, foi criada a palavra PUGILLATUS, que traduzimos como pugilato, para indicar o antigo boxe romano. Assim que:

  • PUGILISMO: rigorosamente falando, é o antigo boxe romano;
    nos tempos atuais, na prática, o termo pugilismo indica qualquer luta onde se usa principalmente os punhos, como o boxe inglês, o boxe francês (savate), o boxe grego (pugmachia), o antigo boxe italiano, o boxe tailandês (muay thai), o boxe chinês (shao lin wushu), etc.
    Os especialistas na História do Boxe são mais radicais: usam a palavra boxe apenas quando se referem ao boxe inglês praticado a partir das Regras de Broughton ( criadas em 1743 ) e usam a palavra pugilismo para denotar qualquer "boxe" anterior a esse período. 

  • PUGILISTA: rigorosamente falando, indica o praticante do boxe romano;
    nos tempos atuais, na prática, o termo indica o praticante de qualquer luta onde se usa principalmente os punhos.
A partir desses termos foram criados vários outros que refletem características da luta ou qualidades dos lutadores de boxe, como: PUGNA ( para indicar uma disputa, uma altercação ), PUGNACIDADE ( para indicar alta combatividade e determinação de uma pessoa ), etc.

SPARRING - Originalmente, "sparring" era a palavra inglesa que referia-se ao ataque do galo usando seus esporões. Como o boxe adotou várias práticas e termos das rinhas, ficou a tradição de usarmos o verbo "spar", ou seu gerúndio "sparring", quando lutamos mais com sentido de treino, exibição ou mesmo puro divertimento, e usamos o verbo "boxear" quando lutamos pra valer. No Brasil, prefere-se usar a expressão "fazer luvas" como sinônimo do verbo sparring.

Desse velho costume, se originou o substantivo sparring para denominar um colega que tenha estilo semelhante ao do nosso próximo adversário e que se dispõe a ajudar nosso preparo fazendo lutas de treinamento ( "luvas" ) conosco.

SHADOW BOXING OU BOXE SOMBRA - "Shadow" é uma palavra inglesa que pronuncia-se "chédou" e significa sombra. Originalmente, nos séculos XVII e XVIII, usava-se a expressão "shadow boxing" para indicar o treinamento que o boxeador fazia ao lutar com a própria sombra, produzida na parede pela projeção da luz de uma vela que ele colocava nas proximidades. 

Atualmente, se faz o boxe sombra lutando com nossa imagem produzida num espelho de parede. 
Trata-se de exercício muito útil pois que nos permite aprender a frear o braço e assim evitar dolorosas distensões, em caso de golpe errado ou esquivado pelo adversário. Outra grande utilidade desse exercício é o desenvolvimento da capacidade de aplicarmos "combinações": sequências planejadas de vários socos.

CLINCH - Situação de luta onde os dois boxeadores estão segurando-se ou apoiando-se mutuamente sem trocar socos. 
O clinch ocorre quando ambos os lutadores ficaram esgotados depois de uma violenta troca de golpes, ou quando um deles sentiu um golpe e, então, em manobra defensiva, procura segurar o adversário junto a seu corpo, procurando travar o ímpeto do mesmo ou anular sua momentânea vantagem. No boxe amador, o excesso de clinchs é punido com perda de pontos.

INFIGHTING - Esse termo se pronuncia "infaiting" e é feito de duas palavras inglêsas: in ( dentro ) e fighting ( lutar ), sendo empregado quando os boxeadores estão lutando à pequena distância ou mesmo se tocando ( sem haver agarramento, o que caracterizaria um clinch ).

O infighting é mais usado para se esgotar o adversário para então darmos um golpe mais forte aplicado à longa distância.


BOXUER - palavra francesa que se pronuncia "boxér" e significa "boxeador"

UNDISPUTED CHAMPION - Pronuncia-se "andispiutede champion" e indica um boxeador que é reconhecido como campeão pelas principais associações do boxe profissional. Atualmente, isso significa ser campeão tanto pela WBA = Associação Mundial de Boxe como pelo WBC = Conselho Mundial de Boxe.

UNDEFEATED - Pronuncia-se "andefiitede" e significa invicto.

CHALLEGER - Palavra inglêsa que se pronuncia "tchálenger" e pode ser traduzida por desafiante. Ela é usada no boxe profissional para indicar todo boxeador que desafia o campeão de sua categoria. 

"Mandatory challenger" aplica-se ao boxeador classificado imediatamente abaixo do campeão. Ou seja, indica o primeiro colocado no ranking. Esse boxeador é dito ser o "mandatory challenger" ou "desafiante obrigatório" pois que seu desafio não pode ser recusado pelo campeão.


CONTENDER - Palavra inglesa que pronuncia-se "cantenderr" e que denota todo boxeador que, fruto de sua experiência e qualidades, merece uma oportunidade para lutar por título mundial e tem boas possibilidades de vencer.

JOURNEYMAN - Palavra inglesa que pronuncia-se "jurneimam" e que tem significado quase oposto de contender, pois que denota um boxeador experiente mas de qualidades apenas regulares. O journeyman está sempre sendo requisitado para preencher vazios na programação dos eventos pugilísticos ou para servir de "escada" para um boxeador jovem e promissor.

BRUISER - Palavra inglesa que pronuncia-se "bruuserr" e é difícil de se traduzir. Nos primeiros tempos do boxe sem luvas denotava qualquer boxeador. Hoje denota apenas os boxeadores de aspecto selvagem e rude, que atacam constantemente e que dão um grande volume de socos fortes: Sonny Liston e o jovem Mike Tyson foram exemplos recentes de bruisers.

BRAWLER - palavra inglesa que se pronuncia "bróuler" e que significa o mesmo que bruiser.

SEGUNDOS - Considera-se os lutadores como os primeiros ou principais elementos da luta e seus auxiliares ( técnico, preparador físico e qualquer outro membro de sua equipe de apoio ) os segundos elementos da luta. 
Assim, por exemplo, a clássica expressão "segundos fora" é um comando para que os auxiliares dos lutadores se retirem imediatamente do ring a fim de que a luta, ou um novo round, inicie.


CUT MAN - Expressão inglesa que se pronuncia "cótman" e é usada exclusivamente no boxe profissional. Ela poderia ser traduzida como "o homem dos cortes" pois que denota o "segundo" que é especializado em tratar, durante os intervalos da luta, dos ferimentos de seu boxeador. No boxe amador, raramente se permite um boxeador ferido continuar lutando.

KNEE MAN - Expressão inglesa que se pronuncia "quinii man" e era usada, na época do boxe sem luvas, para indicar o segundo que nos intervalos tinha seu joelho usado como cadeira de descanso por seu principal.

REFEREE - Palavra inglesa que se pronuncia "réferrii" e corresponde à nossa palavra "árbitro".


MANAGER - Palavra inglesa que pronuncia-se "méneger" e corresponde à expressão brasileira "empresário de boxe". Ela é usada apenas no contexto do boxe profissional e denota a pessoa que é contratada pelo boxeador para marcar suas lutas, discutir o valor de suas bolsas, buscar patrocinadores e tratar dos demais aspectos financeiros associados à sua carreira. 

Um bom manager está sempre atento para poder achar o ponto exato entre as lutas de boa perspectiva de vitória de seu "pupilo" e as lutas com bom retorno financeiro. Ele deve ser paciente para não "queimar" o boxeador sob sua orientação, colocando-o contra outro mais experiente. 


No caso de boxeadores em início de carreira, por razões de economia, é comum que o treinador e manager sejam a mesma pessoa.


PROMOTER - Palavra inglêsa que pronuncia-se "promôter" e corresponde à expressão brasileira "promotor de lutas". Um promoter é uma pessoa ou uma empresa que organiza, divulga, produz e vende lutas de boxe. 


É bastante comum de ocorrer que, nas lutas organizadas por um promoter, estejam envolvidos boxeadores que são por ele empresariados. Dois promoters de grande importância histórica foram Tex Rickard, nos USA, e Jacó Nahun, no Brasil. Entre os promoters atuais, talvez os mais famosos sejam Don King e Bob Arum.

TIME - Palavra inglesa que se pronuncia "taime" e significa "tempo"; ela e' usada pelo árbitro para indicar o término de um round da luta.

STOP - Palavra inglesa que se pronuncia "istópe" e significa "pare". Ela é uma ordem do árbitro determinando que, momentaneamente, os boxeadores parem de lutar de modo que ele possa fazer uma advertência, iniciar uma contagem, chamar o médico de ring ou tomar qualquer outra providência que achar necessária.

BREAK - Palavra inglesa que se pronuncia "breique" e significa quebrar; ela e' usada pelo árbitro como ordem para os lutadores se separarem de um clinch. 
No Brasil, é comum ouvirmos a pronúncia errada "bréque", resultado de lamentável confusão entre "brake" ( que significa freiar ) e "break".

BOX - verbo que tem significado oposto do "stop": é um comando do árbitro para que os boxeadores recomecem a lutar. 

( não confunda o comando box com o substantivo boxe, o qual denota nosso esporte, conforme já foi explicado acima )


KO - KNOCKOUT - NOCAUTE -Esse termo é feito de duas palavras inglêsas: knock ( derrubar ) e out ( fora ). Frequentemente é usada sua abreviação: KO, que se pronuncia "queiô". 

A palavra knockout foi inventada, em 1882, por um jornalista ao descrever o resultado de uma das lutas mais importantes de todos os tempos: John Sullivan versus Ryan, vencida pelo primeiro no oitavo round. O significado original era: "derrota pela inconsciência provocada por golpe". Foi, inclusive, com esse significado que o termo passou a ser usado em assuntos que nada tem a ver com o boxe, sempre que queremos dizer que algo "foi tornado inoperante". 


No boxe atual, contudo, o termo knockout é usado apenas no boxe profissional e num sentido mais preciso: "derrota por golpe que provocou inconsciência ou severo atordoamento durando dez segundos ou mais". Insistimos: os termos nocaute, knockout e KO estão banidos do boxe amador!


KNOCKDOWN - Esse termo é feito de duas palavras inglêsas: knock ( derrubar ) e down ( abaixo ). Pronuncia-se "nóquidaum".


E' empregado quando um soco "derruba" um dos lutadores, mas esse consegue se levantar em menos de dez segundos. É necessário que se acrescente que esse "derruba" significa "tirar da posição em pé", o que pode ocorrer se tocando o chão com qualquer parte do corpo que não seja os pés, ou mesmo ficando dependurado nas cordas do ringue ou tendo sido jogado fora dele.

NOCAUTE TÉCNICO - TECHNICAL KNOCKOUT - TKO - Termo de uso exclusivo no boxe profissional e denota término de luta pelo fato de o árbitro ter considerado um dos lutadores sem condições de continuar a pelejar. Um modo de isso ocorrer é a sucessão de três knockdowns num mesmo round.

DECISÃO POR PONTOS NO BOXE PROFISSIONAL

UNANIMOUS DECISION - decisão unânime:

todos os três juízes indicaram o mesmo vencedor
MAJORITY DECISION - decisão da maioria:
dois juízes escolheram um lutador e o terceiro juíz considerou a luta empatada
SPLIT DECISION - decisão dividida:
dois juízes escolheram um lutador e o terceiro juiz escolheu o outro lutador
MAJORITY DRAW - empate pela maioria:
dois juízes consideraram a luta empatada e o terceiro achou um vencedor


RSC - REFEREE STOPED CONTEST - Termo de uso exclusivo no boxe amador e denota luta terminada pelo árbitro por medida de precaução, por ter considerado um dos lutadores ser flagrantemente inferior a seu oponente, ou de um deles estar sendo muito castigado pelo adversário, ou por um dos boxeadores ter recebido ferimento que o impede continuar lutando.

RSCH - REFEREE STOPED CONTEST HEAD - Termo de uso exclusivo no boxe amador e uma variante do RSC. Denota término de luta pelo fato do árbitro ter considerado que um dos lutadores sofreu um excesso de socos na cabeça. Tipicamente, o árbitro usa o RSCH como recurso para parar uma luta que está claramente se encaminhando para um término por nocaute.

RSCO OU RSC-OS - REFEREE STOPED CONTEST - OUTSCORED - Termo de uso exclusivo no boxe amador e uma variante do RSC. Denota término de luta pelo fato de um dos boxeadores ter conseguido um grande diferencial de pontos em relação a seu adversário. 


Até 2002, esse diferencial era de 20 pontos. A partir de 01/01/2003 será adotado: os tradicionais 20 pontos nas categorias senior e juvenil, e 15 pontos na cadete e feminino. Ainda a partir de 01/01/2003, o RSCO não pode ser decretado no último round da luta .


DRAW - Palavra inglesa que se pronuncia "dró" e denota uma luta empatada ou anulada

WO - Abreviação da expressão inglesa: "walk over" e que significa que o lutador adversário ou não compareceu, ou foi impedido de lutar ( por decisão médica, por não ter conseguido "fazer o peso", por não trazer equipamento de luta regulamentar, etc ), ou se retirou do ringue antes do início da luta.

CARTEL - No sentido mais geral, indica o curriculum de um boxeador: lutas que realizou, títulos que conquistou, etc. Pode ser usada em sentido mais particular, como o da relação de lutas que um promotor ou empresário organiza para um boxeador que contratou.

CORNER - Palavra inglesa que significa "canto" e refere-se a cada um dos quatro cantos do ring. Em rings oficiais, um corner é pintado de azul e seu oposto de vermelho, sendo que é nesses dois corners que os lutadores e suas equipes de apoio tem de permanecer antes da luta e durante os intervalos dos rounds; os outros dois corners tem cor branca e são considerados neutros, sendo que é para um deles que o boxeador tem de se dirigir quando o árbitro estiver fazendo contagem de tempo para o adversário ou quando tiver de ser examinado pelo médico de ring.
Fonte: Site da Federação Rio Grandense de Boxe
URL: http://www.boxergs.com.br/

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